SÃO PAULO (Reuters) – Um tribunal do Rio de Janeiro aceitou nesta quinta-feira a varejista brasileira Americana. (AMER3.SA) Ela entrou com pedido de proteção contra falência, dias depois de a empresa divulgar quase US$ 4 bilhões em discrepâncias contábeis que geraram uma disputa legal com credores e investidores.
A Americana, uma empresa de 93 anos com lojas em todo o Brasil e uma grande unidade de comércio eletrônico, disse em um comunicado de valores mobiliários que reestruturaria cerca de R$ 43 bilhões (US$ 8,2 bilhões) em dívidas.
As ações da empresa caíram cerca de 42,5%, para 1,00 real, após a notícia do arquivamento, estendendo seu declínio acumulado no ano para cerca de 90%.
A empresa, apoiada pelo trio de bilionários que fundou a 3G Capital, disse que a mudança ocorreu “apesar dos esforços e ações tomadas pela administração nos últimos dias junto com seus consultores financeiros e jurídicos para proteger a empresa dos efeitos” da contabilidade escândalo.
Os investidores já esperavam a decisão, alguns a viam como inevitável, principalmente após o acordo do BTG Pactual (BPAC3.SA) Na quarta-feira, ele obteve uma decisão judicial para cancelar parte da proteção ao credor da empresa.
A Americana também enfrenta sete diferentes investigações instauradas pela Autoridade de Conduta Financeira (CVM), órgão regulador de valores mobiliários, além de um processo de arbitragem que busca indenização de OMR 500 milhões para a empresa e o trio que fundou a 3G Capital.
Em documento protocolado na Justiça, os escritórios Basilio Advogados e Salomão Kaiuca Abrahão atribuíram a urgência do pedido de falência à decisão dos credores de penhorar os bens das empresas.
A varejista também citou um rebaixamento da classificação da dívida pelas agências de classificação, o que impediu a concessão de novos empréstimos. S&P, Moody’s e Fitch rebaixaram a classificação de Americana após o escândalo contábil.
Anteriormente, a Americana disse que sua atual posição de caixa era de apenas 800 milhões de riais, abaixo dos 7,8 bilhões relatados anteriormente.
Grande parte da posição de caixa divulgada anteriormente pela Americanas está relacionada ao pagamento antecipado de recebíveis ou credores, disse Lucas Pogetti, sócio da consultoria de fusões e aquisições RGS Partners.
“Naturalmente, à medida que os bancos foram tomando conhecimento da real situação da empresa, passaram a adotar uma postura mais agressiva para se proteger, restringindo assim o acesso aos recursos”, disse Boghetti.
No processo, a Americana pede a exclusão de sua fintech, Ame, do pedido de recuperação judicial, conforme regulamentado pelo banco central, e permissão para levantar seu capital.
As lojas de Americana são onipresentes nos shoppings brasileiros. A unidade de e-commerce, que operava como uma empresa separada antes da recente reestruturação, é uma das melhores varejistas online do país.
O presidente-executivo, Sergio Real, renunciou na semana passada, após menos de duas semanas no cargo, citando a descoberta de “discrepâncias contábeis” que totalizam R$ 20 bilhões.
Real, ex-chefe do braço brasileiro do Banco Santander (SANB3.SA)Ele atribuiu as discrepâncias a diferenças na contabilização do custo financeiro de empréstimos bancários e dívidas com fornecedores.
O CFO Andre Coffer, que também acaba de ingressar na Americana, também deixou a empresa, que tem como acionistas de referência os bilionários brasileiros Jorge Paulo Lehmann, Carlos Alberto Secubira e Marcel Telles.
A Americanas disse que os acionistas de referência pretendem manter a liquidez da empresa em níveis que permitam o “bom funcionamento” das suas lojas, canal digital e outras entidades.
(US$ 1 = 5,2226 riais)
Reportagem adicional de Gabriel Araujo, Tatiana Pautzer e Peter Frontini em São Paulo e Carolina Polis na Cidade do México; Edição de Rosalba O’Brien e Bradley Perrett
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